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Gertrudes Altschul é sem dúvida pioneira na consolidação da fotografia moderna no Brasil. Prestes a completar 60 anos desde sua morte, em 1962, a artista além de ser um dos destaques da exposição “Fotoclubismo: Brazilian Modernist Photography, 1946-1964”, que atualmente acontece no Museum of Modern Art (MoMA-NY), apresenta a exposição “Filigrana”, no Museu de Arte de São Paulo (MASP), a maior individual já realizada sobre sua obra. Neste contexto, a Luciana Brito Galeria, juntamente com Isabel Amado Fotografia, parceira e representante exclusiva das obras da artista, apresentam a mostra “Gertrudes Altschul: Pequenos Formatos”, como parte do programa “Artista Visitante”.
Reunindo mais de 35 fotografias inéditas e originais (vintage) da artista, pequenas ampliações realizadas entre 1948 e 1960 recém-descobertas pela família, a mostra traça um panorama condizente com a importância da produção da artista e estabelece um diálogo direto com a arquitetura modernista da antiga residência projetada por Rino Levi. -
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Dona de uma habilidade artística genuína, Gertrudes era perita na capacidade de sintetizar, seja na captura do seu objeto pelo olhar, seja pela facilidade com a edição, processo este que se tornou determinante na sua dinâmica de criação e produção. A partir da fotografia realizada com uma Câmera Rolleiflex, cujos negativos eram maiores e mais propícios para experimentação, a artista já definia um recorte retangular específico a partir da imagem quadrada 6 x 6 original da câmera. Era por meio da manipulação dos ângulos que ela conseguia selecionar o que mais lhe interessava e potencializar os aspectos gráficos da imagem. Gertrudes também era adepta da criação utilizando-se da técnica do fotograma, um processo de gravação da imagem durante a ampliação, do qual o posicionamento de objetos sobre o papel fotográfico e a incidência de luz direta, permitia explorar ao máximo as formas originais dos objetos, cujos resultados podem também ser vistos na exposição.
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Em sua produção, a cidade de São Paulo, então em pleno crescimento geográfico, econômico e cultural, tornou-se o cenário perfeito para os experimentos fotográficos, por meio de um particular interesse pela arquitetura moderna e industrial, que entrava num intenso processo de verticalização com os novos empreendimentos mobiliários. Sob o ângulo de Gertrudes, a arquitetura e os espaços urbanos, dessa forma, ganham destaque pelos seus detalhes, onde o enquadramento mais fechado transforma o referencial em abstração geométrica. A obra “Concreto Abstrato”, parte da exposição e considerada uma das principais obras da fotografia moderna no Brasil, é um bom exemplo de desconstrução do objeto a partir do enquadramento, resignificando-o dentro da estética construtivista, então em voga no Brasil na década de 1950.
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Outro aspecto marcante em sua pesquisa, e único dentro do conceito modernista da época, foi a utilização de folhagens naturais e motivos botânicos em seus experimentos com a fotografia. Os padrões orgânicos e geométricos, típicos da vegetação brasileira, direcionavam o olhar de Gertrudes, que conseguia potencializar seus atributos naturais e padrões geométricos através da dramaticidade natural da luz e da perspectiva. Respeitando este conceito, a obra “Filigrana”, que pode ser vista na exposição, está entre as dez fotografias mais importantes da modernidade em todo o mundo, de acordo com a curadora do MoMA-NY e pesquisadora norte-americana, Sarah Meister.
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Gertrudes Altschul: Pequenos Formatos
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