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ANALIVIA CORDEIRO
ARTIFINATURAL Body
curadoria
FRANCK JAMES MARLOT
18.05 - 20.07
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Apresentar pela primeira vez o trabalho de Analivia Cordeiro na Luciana Brito Galeria é um verdadeiro desafio. Seu trabalho multifacetado abrange vários campos artísticos, incluindo dança, performance, arte de computador, etnografia e arquitetura, ao mesmo tempo em que emprega diferentes meios, como vídeo, fotografia, desenho, pintura e escultura. Apesar da diversidade, um denominador comum une essas práticas: o movimento do corpo como expressão de uma linguagem artística e plástica.Analivia Cordeiro iniciou seu percurso artístico com a dança e rapidamente aproveitou as oportunidades oferecidas pela informática como suporte e aprimoramento para sua partitura coreográfica. Esta pesquisa evoluiu com o tempo, levando a artista a estabelecer um diálogo profícuo entre a prática da dança e as novas tecnologias, o que a posicionou como uma das pioneiras da vídeo-dança associada à arte computacional.A necessidade de registrar as coreografias e as sequências dos movimentos levou Analivia Cordeiro a desenvolver uma metodologia de notação e arquivamento, inspirada na obra de Rudolf von Laban, entre outros. As novas tecnologias mudaram a concepção desse trabalho tedioso e repetitivo e abriram novas possibilidades plásticas. O processo computacional, por sua vez, tornou-se uma fonte de inspiração criativa para a artista. Ilustrando essa evolução, a instalação interativa MUTATIO (2019-2024) e a obra em videodança 0°= 45° (1974), com 50 anos de diferença entre elas, abrem e encerram a exposição.Esse panorama oferece um mergulho documentado no universo da performance, com destaque para as primeiras notações, com 256 Kb de memória e 5 Mb de armazenamento, que foram realizadas com um computador Digital PDP 11 do centro de informática da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP. Essa obra transforma a performance em uma escultura viva, reforçando a interação entre o sujeito dançante e o seu ambiente.A obra MUTATIO (2019-2024) dá as boas-vindas aos visitantes e convida-os a interagir, proporcionando a captura tridimensional dos movimentos em tempo real, através de filtros coloridos. Essa tecnologia, um dos primeiros sistemas de motion capture, criado em 1983, e desenvolvido em colaboração com o cientista da computação Nilton Lobo, é o resultado do modelo do corpo do(a) bailarino(a) desenvolvido pelo computador, seguido pela digitalização dos movimentos (Nota-Anna).As esculturas, em latão e polímero combinados, oferecem retratos tridimensionais do movimento, capturados e analisados, ilustrando a fusão entre tecnologia e expressão artística. A mostra apresenta também uma série de pinturas, Dancing on the Paper (2017-2024), em que o corpo da artista explora o papel, da mesma forma que explora o espaço da performance. Essas pinturas são transmitidas por vídeos, que mostram a elaboração do processo por meio de sons rítmicos.O corpo é uma ferramenta mecânica que expressa as notações geradas através de uma programação. Por meio da sua singularidade, esse corpo participa de um artifício maquínico, sempre respeitando profundamente a sua natureza humana, da qual emerge uma obra de arte. Analivia Cordeiro concebe um mundo pós-humano, em que o homem continua a ser a chave e o suporte de mundo em re-formação, à medida que evolui com os novos meios de comunicação.Franck James Marlot
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Vista da exposição "Analivia Cordeiro. From Body to Code" no ZKM | Center for Art and Media Karlsruhe, 2023.
© Foto: Felix Grünschloß -
From Choreography to Code
Peter WeibelTexto Completo
O corpo já não é o foco dominante; esta forma de dança descentralizada expandiu-se para incluir outras possibilidades expressivas; por exemplo, do corpo ao código. Com esta expansão, a dança libertou-se das amarras históricas de ser puramente arte corporal e avançou para novas dimensões da antropologia. Uma grande e inovadora pioneira desta extensão da dança à arte midiática e à antropologia é Analivia Cordeiro. Para a artista, o papel da notação é significativo. Seu trabalho em notação coreográfica é comparável ao trabalho de G. W. F. Hegel sobre o Conceito. Obriga o coreógrafo a tomar decisões racionais que vão muito além da pura expressividade....Se as suas performances, no entanto, possuem um valor imensamente expressivo, é porque ela nos ensina um código secreto, que consiste no fato de que quanto mais complexa for a geometria (ou seja, os movimentos, posições do corpo no espaço), maior e mais intensa a expressividade....As notações abstratas de Analivia Cordeiro são uma demonstração exata do caminho da coreografia corporal expressiva ao movimento codificado do corpo no espaço e no tempo. Nisso, ela antecipou o sistema de captura de movimento....Só hoje, quando a extensão da dança nos meios de comunicação atingiu o mainstream, é que compreendemos a realização artística de Analivia Cordeiro –que com tremenda imaginação e rigor matemático, ela conquistou e moldou a terra incógnita.(Weibel, Peter; From Choreography to Code; em From Body to Code, ZKM e Verlag Himer; Alemanha, 2023)
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A N A L I V I A C O R D E I R O"Nota-Anna Bicleta do Pelé + Arquitetura do Movimento", 1999/2014
vídeo colorido 4:3, com som | color video 4:3, with sound
duração: 1'47'' | duration: 1'47'' -
Analivia Cordeiro
1954, São Paulo, Brasil. Vive e trabalha em São Paulo, BrasilA pesquisa artística de Analivia Cordeiro desenvolve-se de forma híbrida e multidisciplinar, com particular interesse pelo estudo da linguagem corporal, com foco na sua expressão e consciência, abordando dentre outros aspectos sua relação com as mídias digitais. Sua vivência em dança iniciou-se ainda criança e desde então tem sido o ponto norteador de sua trajetória nas artes visuais. Considerada pioneira da chamada “Computer-dance” e da performance multimídia, a artista incorporou o computador como ferramenta de entendimento dos processos artísticos ainda em 1973, sendo a primeira videoartista brasileira com a obra “M3X3”, que já vislumbrava a representatividade da tecnologia na vida prática da sociedade. Em 1981, criou “Nota-Anna”, um software de notação de movimentos, resultado de análises científicas para o rastreamento dos movimentos corporais. A investigação de Analivia trabalha o duo orgânico/artificial na linguagem corporal e, paralelamente, o duo controle/liberdade na sua relação com a tecnologia, considerando-a como um filtro semântico para a realidade, um intermediário para dialogar com o público. O que vemos são produções inovadoras tanto em arte quanto em tecnologia, que despertam para experiências multissensoriais e trabalham também a saúde, a afetividade e o autoconhecimento, travando um diálogo com a tecnologia, a arte, o corpo e a mente.
Analivia Cordeiro formou-se em Arquitetura pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – USP (1976, São Paulo), com pós-graduação Mestrado Multimídias pela Unicamp (1996, Campinas-SP) e Doutorado em Comunicação e Semiótica pela PUC (2004, São Paulo-SP), além de Pós-doutorados pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ (2010, Rio de Janeiro) e pela Universidade de São Paulo – USP (2018, São Paulo). Entre 1977 e 1979 estudou Dança Contemporânea e Coreografia no Merce Cunningham Dance Studio de Nova York e no Alwin Nikolais Studio. Recentemente, ganhou sua primeira grande exposição individual internacional, no ZKM-Museum of Contemporary Art (2023, Alemanha), no Centro Atlántico de Arte Moderno, Las Palmas (2023, Espanha), além de participar de mostra no LACMA (2023, EUA). Dentre as principais mostras e eventos dos quais participou, estão a 1973 International Festival of Edinburgh, 12a Bienal de São Paulo (1974, São Paulo, Brasil); LatinAmerica 74 – Institute of Contemporary Arts (1974, Londres, GB); International Conference Computer & Humanities/2 – University of Southern California (1976, Los Angeles, EUA); Art of Space Era - Von Braun Civic Center of Huntsville Museum of Art, 1978; Brasil Século XX, Bienal de São Paulo (1984, Brasil); Arte e Tecnologia – Itaú Cultural (1996, São Paulo, Brasil); 27a Annual Dance on Camera Festival (1998, Nova York, EUA); SIGGRAPH (2008, USA), B3 Biennale of Moving Images – Expanded Senses – Museum Angewandte Kunst (2015, Frankfurt, Alemanha); Video art in Latin America, Laxart (2016-2017, Los Angeles); Radical Women: Latin American Art, 1960-1985, Hammer Museum 2017, Los Angeles, EUA), Brooklyn Museum (2018, Nova York, EUA) e Pinacoteca de São Paulo (2023 e 2018, São Paulo, Brasil); Coder le Monde – Centre Georges Pompidou (2018, Paris, França); Control and Chance: Art in the Age of Computer – Victoria & Albert Museum (2018, Londres, GB). Sua obra também figura em importantes coleções, como ZKM-Museum of Contemporary Art (Alemanha), Museum of Fine Arts, Houston (EUA), Victoria & Albert Museum Collection (GB), Museum of Modern Art – MoMA-NY (EUA); Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia (Espanha), Museum of Concrete Art (Ingolstadt, Alemanha), além de MAC-USP (Brasil), Pinacoteca do Estado de São Paulo (Brasil), Itaú Cultural (Brasil) e do arquivo de Oskar Schlemmer (Suíça/Alemanha). A artista é também membro da CID – Comissão Internacional de Dança, da UNESCO.
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