• 02 abril - 04 maio, 2024

     

     

    Gabriela Machado

    "Cadê o abre alas?"

    curadoria Oswaldo Corrêa da Costa

     

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    “(Essa mostra contém) soluções específicas para o problema de como fazer um retângulo pigmentado se sustentar de maneira bonita e inteligente. (...) Só uma pintura nos fornece, de uma tacada só, um universo de pensamento e sentimento, nos fisgando, no decorrer do tempo, com surtos de prazer complexo[1]".
     
     
    Cadê o Abre Alas? é uma grande exposição de pinturas pequenas e uma pequena exposição de pinturas grandes. Como no atelier da artista, a mostra também contém uma grande estante com pequenas esculturas de cerâmica esmaltada.
     
    Uma das missões da galeria é promover conversas entre o programa de exposições e a residência que ocupa, projetada por Rino Levi. Com isso em vista, adotamos a expografia que Lina Bo Bardi desenvolveu para o MASP, utilizando versões dos seus cavaletes de vidro na luminosa sala de visitas, flanqueada por jardins de Burle-Marx.
     

    [1]Peter Schjeldahl, Village Voice, 13 de fevereiro de 1996. Resenha da exposição Screenery, organizada por Joshua Decter na Friedrich Petzel Gallery, Nova York. Tradução do autor.

     

  • No anexo, organizamos uma retrospectiva de 124 pequenas paisagens, datadas de 2016 até 2024. Para essas, optamos por uma montagem sistemática, em ordem de luminosidade. O objetivo é minimizar subjetividade autoral e gerar combinações impensadas. Face a elas, temos duas telas maiores, ambas de 2023. Na sala da casa principal continua a exposição das pequenas, com 18 nos cavaletes de vidro em torno da lareira. Quatro telas maiores, também de 2023, flutuam suspensas do outro lado da lareira e numa sala adjacente.
     
    O convívio entre grandes e pequenas pode suscitar a pergunta: qual o efeito do tamanho da tela sobre o resultado? Tamanho é documento? Telas maiores comportam pincéis mais largos, gestos mais expansivos, maior potencial narrativo. Telas menores exigem pincéis mais finos, gestos mais contidos, maior poder de síntese. Você consegue detectar diferenças de temperamento entre as diferentes medidas?
     
    No anexo, as telas grandes de fundo colorido são supernovas, embates pictóricos explosivos onde as manchas de cor convivem com poderosos elementos gráficos. As fileiras de pequenas, sublimes e contidas, se aproximam, em espírito, de iluminuras medievais, ícones bizantinos, miniaturas Mughal; objetos de devoção saturados de sedução. Na casa principal, a seleção de pequenas evidencia a diversidade de seus formatos e temáticas, enquanto as grandes de fundo branco, musculosas e econômicas, lembram aquarelas, evocando a gestualidade dos desenhos da artista.
  • G A B R I E L A M A C H A D O 'Cintura fina', 2024 acrílica sobre...
    G A B R I E L A  M A C H A D O
    "Cintura fina", 2024

    acrílica sobre linho | acrylic on linen

    190 x 150 cm | 74.8 x 59.05 in
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  • G A B R I E L A M A C H A D O Cafuné, 2023 acrílica sobre linho...
    G A B R I E L A  M A C H A D O
    Cafuné, 2023

    acrílica sobre linho | acrylic on linen

    200 x 165 cm | 78.74 x 64.96 in
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  • G A B R I E L A M A C H A D O Arlequim, 2023 acrílica sobre linho...
    G A B R I E L A  M A C H A D O
    Arlequim, 2023

    acrílica sobre linho | acryllic on linen

    200 x 165 cm | 78.74 x 64.96 in
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  • G A B R I E L A M A C H A D O 'Riviera Violeta', 2023 acrílica sobre...
    G A B R I E L A  M A C H A D O
    "Riviera Violeta", 2023

    acrílica sobre linho | acryllic on linen

    200 x 165 cm | 78.74 x 64.96 in
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  • Gabriela pinta como quem mantém um diário. Uma respiração que, diferente de alguns de seus mais notados colegas de geração, se dá sem qualquer intermediação que sinalize o esgotamento da pintura modernista. Sinalização que, se existe aqui, se dá no plano do resultado e não do processo, do fim e não do meio; se dá no livre trânsito entre a gestualidade que predominava no seu passado e a representação que domina hoje; se dá no convívio da escrita com a imagem. Aqui tudo é pano para a manga pictórica, até as impactantes e fascinantes esculturas. Obras sem esboços ou estudos, de informalidade enganosa, nascidas de uma imaginação fecunda. Obras informadas pelo conhecimento acumulado em uma longa estrada, por uma habilidade desinteressada em exibicionismo. A primazia é sempre da mão; sua pegada sempre é visível.
     
    Pintar por pintar é um impulso que precede Lascaux. Excetuando as abstrações, é preciso algum pretexto, como uma paisagem. A maioria das obras expostas são paisagens, sem artifício, sem intermediação, sem estêncil, sem régua ou linhas retas. Nelas, nada interfere com o momento mágico em que o pincel encosta na tela, como um par de dedos se encontrando no teto de uma capela. O modernismo e suas vanguardas podem ter desencadeado um processo evolutivo na pintura que desembarcou na última estação -- o monocromo preto ou branco -- mas, para esse ofício, há claramente vida após a extinção. Vida onde pulsões atávicas geram poéticas como essa, que, paradoxalmente, se mantém contemporânea graças à sua atemporalidade.
     
    Oswaldo Côrrea da Costa
  • G A B R I E L A M A C H A D O Sem título | Untitled, 2013...
    G A B R I E L A  M A C H A D O
    Sem título | Untitled, 2013

    porcelana esmaltada | enameled porcelain

    32 x 22 x 16,5 cm | 12.60 x 8.66 x 6.50 in
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  • Gabriela Machado

    1960, Joinville, Brasil - Vive e trabalha no Rio de Janeiro, Brasil.
    A pesquisa de Gabriela Machado tem a pintura como principal interesse. O imaginário do dia a dia da vida representa grande fonte de inspiração, fornecendo à artista os parâmetros para suas paisagens e naturezas-mortas, onde pequenos recortes do cotidiano são emulados na tela. Seus processos partem da gestualidade rápida, orgânica e espontânea, o que atribui pureza à visualidade das formas e cores vivas. Suas esculturas acontecem como um desdobramento dessa estética, dando à artista a oportunidade de investigar as formas através da potencialidade de outros materiais, como argila, gesso e bronze.
     
    Gabriela Machado formou-se em Arquitetura pela Universidade Santa Úrsula (RJ), em 1984. Também estudou gravura, pintura, desenho e teoria da arte na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (RJ), entre 1987 e 1992, além de cursos livres. Desde 1987 expõe no Brasil e internacionalmente. Dentre as principais exposições individuais estão as realizadas no Paço Imperial (2023, Rio de Janeiro), Fundação Eugênio de Almeida (2019, Évora, Portugal), Museu de Arte de Santa Catarina (2018, Santa Catarina), Auroras (2017, São Paulo), MAM (2016, Rio de Janeiro), Espaço Caixa Cultural (2009, São Paulo e Rio de Janeiro), CCBB (2002, Rio de Janeiro). A artista também participou de mostras coletivas em espaços como na Casa Roberto Marinho (2022-2023, Rio de Janeiro), Paço Imperial (2014, Rio de Janeiro), Oi Futuro (2014, Rio de Janeiro), Instituto Figueiredo Ferraz (2012, Ribeirão Preto (2012, São Paulo), Centro Cultural São Paulo (2011, São Paulo), Museu de Arte da Pampulha (2010, Belo Horizonte), Centro Universitário Maria Antônia (2002, São Paulo), Espaço MAM-Higienópolis (2002, São Paulo), MAM (1999, Salvador), dentre outros. Realizou as residências Air 351 (2019, Cascais, Portugal) e Further on Air (2016, Nova York, EUA). Sua obra figura entre coleções nacionais e internacionais importantes, como Museu de Arte da Pampulha (Belo Horizonte), Centro Cultural São Paulo (São Paulo), Ar.Co - Centro de Arte e Comunicação Visual (Lisboa, Portugal), Casa Roberto Marinho (Rio de Janeiro), IBAC-Instituto Brasileiro de Arte Contemporânea (Rio de Janeiro), Museu de Arte de Santa Catarina (Santa Catarina), Arizona State University Art Museum (Arizona, EUA), etc.