• Luciana Brito Galeria: Fernando Zarif

    Arpa 2023 | Estande D7
  • Fernando Zarif

    curadoria: Rafael Vogt Maia Rosa

    Essa constelação de obras inéditas de Fernando Zarif (1960-2010) foi proposta a partir da percepção de que, paralelamente à sua festejada atuação na cena artística paulistana dos anos 80 e 90, o artista cumpriu também um percurso radical no contexto da chamada “volta à pintura”, e que, no lugar de um contraponto mais “conceitual” referendado por seu autorretratismo invulgar e de uma exuberante coleção de composições com objetos “prontos”, da qual trazemos também uma amostragem, sua produção pictórica conseguiu absorver e problematizar uma crença na autonomia e no heroísmo do expressionismo abstrato norte-americano como incompatível com as demandas de uma poética precocemente comprometida com a persistência de uma figuração orgânica cultivada em meio aos automatismos surrealistas e à contaminação deliberada entre as linguagens tradicionais.

     

    Dessas obras, podemos confirmar que Zarif dialogava com as telas de Jorge Guinle – ao menos no que tange à energia e ao cromatismo de sua gestualidade. Contudo, não emula essa dinâmica e, por vezes, impõe cortes e descontinuidades que nos obrigam a reconsiderar esse tipo de solução integral diante de seu virtuosismo imperativo, sua inteligência dos acabamentos e distanciamento crítico, tudo como igualmente insuficiente. Dialoga também com Leonilson, no intimismo de uma linha mais tênue, curativa, que desinibia a expressão escrita no mesmo campo pictórico com uma atitude de urgência sem mais receios de perdas sublimes ou evasão de teores mais puros e intensos da formalização. Já a franqueza, quase petulância, das diluições e disposições da tinta sobre o suporte, mesmo a opção frequente pelo papel, como tal, parece solidária às primeiras séries dos Casa 7, que experimentavam também repercussões locais de insurgências figurativas, no caso, a partir de uma de suas resoluções supostamente mais curiosas, a segunda fase de Philip Guston.

     

    Nesse ponto, arriscamos que a diferença fundamental entre tais produções está em seu embate com uma crítica institucional ou perspectiva acadêmica dos processos pictóricos em curso. No caso de Zarif, isso parece sabotado por uma renúncia à dialética que emperrasse ou desvirtuasse a voracidade de sua própria relação com a escrita, aí sim, possivelmente, uma doutrina de inspiração orientalista voltada a proposições artísticas como indagações oraculares, estranha álgebra aderente a toda a sorte de analogias visuais ou não.

     

    A hipótese de uma aproximação com o automatismo surrealista veio de desenho feito a duas mãos com Tunga, no qual o aspecto projetivo e diáfano da figuração presume um ritual de distensão formal, de convivência estilística só proporcionada em parcerias musicais. E, por depoimentos dados por amigos e colaboradores durante ciclo de encontros dedicados ao artista, O Fim do Obscuro (2018), nos quais a figura de Antonin Artaud e John Cage surgiram como recorrentes no lugar dos sempre invocados Matisses, de Koonings e Pollocks, em Nova York, dos Morandis e Volpis, em São Paulo, onde o caráter exemplar lhe estaria mais próximo ao de Flávio de Carvalho, sua adesão ao desenho e ao retratismo em sincronia com uma atitude e comportamento objetivamente multidisciplinar.

     

    Foi importante, sobretudo, entender melhor a familiaridade de Fernando Zarif com o universo do “acontecimento”, sua especialização na dimensão temporal da experiência contemporânea. Observar que trabalhou com séries, algumas com repetição ostensiva de determinados procedimentos insubmissos. O fato de o artista tocar um instrumento como o violoncelo, por exemplo, pode ter sido determinante de aspectos da plasticidade dessas pinturas aqui expostas, de não almejarem tamanhos ou formalizações mais ou menos resolutas do que as suas mesmas, como se libertas, em forma e substância, dos acoplamentos e vetorizações de receitas e modelos do alto modernismo. Os glissandos, pizzicatos e percussões incidentais teriam permitido ao artista o acesso a uma microtonalidade e a um minimalismo que ampliavam o público em sua aproximação menos desconfiada com a sensibilidade comum. Justamente, esse “social”, a teatralização de fluxos pensamentais, de processos alheios à competição, era o solo dos inúmeros eventos que Zarif proporcionou. Neles, pelo que se pôde apurar, não havia qualquer tipo de separação apriorística entre uma dimensão estética e outra prosaica, regida pela convivência e pelo acaso da vida.

     

    Rafael Vogt Maia Rosa

     

  • F E R N A N D O Z A R I F Sem título | Untitled, s.d. lã e...
     
    F E R N A N D O  Z A R I F
    Sem título | Untitled, s.d.

    lã e acrílica sobre tela

    wool and acrylic on canvas

    60 x 50 cm
    23.62 x 19.68 in
    View more details
  • F E R N A N D O Z A R I F Sem título | Untitled, 1981 lã, cordões...
     
    F E R N A N D O  Z A R I F
    Sem título | Untitled, 1981

    lã, cordões de seda e acrílica sobre tela

    wool, silk cords and acrylic on canvas

    50 x 60 cm
    19.68 x 23.62 in
    View more details
  • Fernando Zarif é meu nome.

     

    Sei do meu talento, do gênio

    da preguiça, da demora, do

    mini-mal que faço, a

    rejeição, da traição, da falta

    de verdade e só não entendo

    a brecada.

    A estrada pelo retrovisor

    os limpadores de borracha

    o para brisa o porta luvas

    o para choque o para lama

    o marca passo o guarda chuva

    a ponte pênsil o purgatório

    a frigideira e o furta cor.

    Ah! Meu branco e preto, ah!

    Meu girassol, tome um arco íris,

    arque e fleche abra e flutue.

     

     

  • F E R N A N D O Z A R I F Sem título | Untitled, s.d. lã, acrílica...
     
    F E R N A N D O  Z A R I F
    Sem título | Untitled, s.d.

    lã, acrílica e ponta seca sobre tela

    wool, acrylic and drypoint on canvas

    50 x 60 cm
    19.68 x 23.62 in
  • F E R N A N D O Z A R I F Sem título | Untitled, s.d. acrílica e...
     
    F E R N A N D O  Z A R I F
    Sem título | Untitled, s.d.

    acrílica e partículas sólidas

    acrylic and solid particles

    50 x 60 cm
    19.68 x 23.62 in
  • F E R N A N D O Z A R I F Sem título | Untitled, s.d. acrílica sobre...
     
    F E R N A N D O  Z A R I F
    Sem título | Untitled, s.d.

    acrílica sobre papel

    acrylic on paper

    27 x 19 cm
    10.62 x 7.42 in
  • "Nada com Zarif é medido, comedido, contido. Com ele, nele, estamos diante de profusão, quantidade e intensidade."

     

     

    Noemi Jaffe

  • F E R N A N D O Z A R I F Sem título | Untitled, s.d. acrílica, massa...
     
    F E R N A N D O  Z A R I F
    Sem título | Untitled, s.d.

    acrílica, massa acrílica e partículas sólidas sobre tela

    acrylic, modeling paste and solid particles on canvas

    50 x 30 cm
    19.68 x 11.81 in
    View more details
  • F E R N A N D O Z A R I F Sem título | Untitled, s.d. acrílica, ponta...
     
    F E R N A N D O  Z A R I F
    Sem título | Untitled, s.d.

    acrílica, ponta seca e partículas sólidas sobre tela

    acrylic, drypoint and solid particles on canvas

    70 x 50 cm
    27.55 x 19.68 in
    View more details
  • F E R N A N D O Z A R I F Sem título | Untitled, s.d. acrílica, metal,...
     
    F E R N A N D O  Z A R I F
    Sem título | Untitled, s.d.

    acrílica, metal, incisões e colagem de papel sobre tela

    acrylic, metal, incisions and collage on canvas

    97 x 147 cm
    38.18 x 57.48 in
    View more details
  • "Zarif provoca perversa e suavemente o olhar – e o tato desse olhar que, quando olha, as vezes quer tocar no que vê e, mais ainda, no que não vê e passa a ver pela primeira vez (com o mesmo estranho frescor da primeira vez). É tudo tão tátil-visual em seus objetos-quadros-esculturas-textos-instalações-poemas-narrativas-sons-sentidos-imagens."

     

    Lenora de Barros

  • F E R N A N D O Z A R I F Sem título | Untitled, s.d. acrílica sobre...
     
    F E R N A N D O  Z A R I F
    Sem título | Untitled, s.d.

    acrílica sobre papel

    acrylic on paper

    50 x 60 cm
    19.68 x 23.62 in
  • F E R N A N D O Z A R I F Sem título | Untitled, s.d. acrílica sobre...
     
    F E R N A N D O  Z A R I F
    Sem título | Untitled, s.d.

    acrílica sobre papel

    acrylic on paper

    70 x 60 cm
    27.55 x 23.62 in
  • F E R N A N D O Z A R I F Sem título | Untitled, s.d. acrílica e...
     
    F E R N A N D O  Z A R I F
    Sem título | Untitled, s.d.

    acrílica e guache sobre tela

    acrylic and gouache on paper

    50 x 60 cm
    19.68 x 23.62 in
  • F E R N A N D O Z A R I F Sem título | Untitled, s.d. acrílica e...
     
    F E R N A N D O  Z A R I F
    Sem título | Untitled, s.d.

    acrílica e ponta seca sobre tela

    acrylic and drypoint on canvas

    46 x 39,5 cm
    18.11 x 15.55 in
    View more details
  • F E R N A N D O Z A R I F Sem título | Untitled, s.d. ferro, latão,...
     
    F E R N A N D O  Z A R I F
    Sem título | Untitled, s.d.

    ferro, latão, plástico e madrepérola

    iron, brass, plastic and mother of pearl

    90 x 5 x 5 cm
    35.43 x 1.96 x 1.96 in
    View more details
  • F E R N A N D O Z A R I F Sem título | Untitled, s.d. óleo e...
     
    F E R N A N D O  Z A R I F
    Sem título | Untitled, s.d.

    óleo e acrílica sobre tela

    oil and acrylic on canvas

    80 x 60 cm
    31.49 x 23.62 in
  • F E R N A N D O Z A R I F Sem título | Untitled, s.d. óleo e...
     
    F E R N A N D O  Z A R I F
    Sem título | Untitled, s.d.

    óleo e acrílica sobre tela

    oil and acrylic on canvas

    100 x 60 cm
    39.37 x 23.62 in
  • "Em relação a sua produção, fica difícil localizá-la, como habitualmente se faz com o trabalho de outros artistas (o que, aliás, é sempre um péssimo hábito), mapeando-lhes referências em contextos determinados. É um trabalho retiniano que tem relação com Duchamp, um romântico expressionista que cria objetos com rigor construtivo, um agnóstico curioso sobre as religiões, um cético que adora verdades, desde que sejam passageiras. Culturalmente, esse trabalho possui uma perversidade salutar: pode-se dizer tudo dele, menos que queira ser um trabalho bem-comportado."

     

    José Resende

  • F E R N A N D O Z A R I F Sem título | Untitled (Masque), c.1995 plástico,... F E R N A N D O Z A R I F Sem título | Untitled (Masque), c.1995 plástico,...
     
    F E R N A N D O  Z A R I F
    Sem título | Untitled (Masque), c.1995

    plástico, madeira e plástico laminado

    plastic, wood and laminated plastic

    40 x 30 x 11,5 cm
    15.74 x 11.81 x 4.52 in
  • F E R N A N D O Z A R I F Sem título | Untitled, s.d. acrílica e...
     
    F E R N A N D O  Z A R I F
    Sem título | Untitled, s.d.

    acrílica e spray sobre tela

    acrylic and spray paint on canvas

    60 x 50 cm
    23.62 x 19.68 in
  • F E R N A N D O Z A R I F Sem título | Untitled, s.d. plastilina e... F E R N A N D O Z A R I F Sem título | Untitled, s.d. plastilina e... F E R N A N D O Z A R I F Sem título | Untitled, s.d. plastilina e...
     
    F E R N A N D O  Z A R I F
    Sem título | Untitled, s.d.

    plastilina e metal

    plasticine and metal

    13 x 5 x 6 cm
    5.11 x 1.96 x 2.36 in
    View more details
  • F E R N A N D O Z A R I F Sem título | Untitled, s.d. plastilha plasticine... F E R N A N D O Z A R I F Sem título | Untitled, s.d. plastilha plasticine... F E R N A N D O Z A R I F Sem título | Untitled, s.d. plastilha plasticine...
     
    F E R N A N D O  Z A R I F
    Sem título | Untitled, s.d.

    plastilha

    plasticine

    10 x 10 x 7 cm
    3.93 x 3.93 x 2.75 in
  • Fernando Zarif

    1960, São Paulo, Brasil. 2010, São Paulo, Brasil.
    Visionário e incessante questionador, Fernando Zarif é autor de uma vasta produção, ondeestabeleceu uma linguagem autêntica e independente dos preceitos culturais de sua época, associando-se a expressões de vanguarda, como as performances e vídeo instalações. Fernando Zarif é considerado uma das figuras mais emblemáticas da geração paulistana da década de 1980. A partir dos anos de 1990, o artista passou a incorporar em sua pesquisa a apropriação de objetos diversos, mantendo ou não a integridade desse material, mas sempre ressignificando-o. Além da escultura, do vídeo e da performance, o artista explorou outros suportes artísticos, como a escrita, o desenho, a pintura e a música.
     
    Fernando Zarif estudou arquitetura e realizou cursos livres em artes. Em 1982, realizou sua primeira exposição individual no Gabinete Fotográfico da Pinacoteca do Estado de São Paulo. No ano seguinte, apresentou as performances com músicas de Richard Wagner e John Cage, como parte da programação musical do MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateubriand. Em 1995, realizou sua maior exposição individual em uma instituição brasileira, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Em 1998, realizou mostra individual na Maison des Arts André Malraux, em Créteil, França (1998).Em 2009, participou de sua última mostra em vida, no Espaço Tom Jobim, Rio de Janeiro. A partir de 2011, sua família deu início ao Projeto Fernando Zarif, o qual é destinado a preservar, catalogar e difundir a obra do artista, somando até hoje mais de 2 mil obras recuperadas, entre fotografias, livros, documentos e escritos. Em 2015, aconteceu a primeira grande exposição póstuma do artista no Instituto Figueiredo Ferraz, seguida por mostra em homenagem a Zarif, realizada pela Luciana Brito Galeria. Mais recentemente, em 2021, o Instituto Fernando Zarif lançou a publicação “Fernando Zarif: Múltipla Unidade”.
  • Projeto Fernando Zarif

  • créditos: Projeto Fernando Zarif