SP-Arte 2021: Oxalá

20 - 24 Outubro 2021
  • O fazer artístico atravessa as várias etapas próprias do processo criativo do artista, que abrange desde sua conceitualização, até as camadas estéticas e imagéticas. Embora cada processo seja único e pessoal, todo artista tem um objetivo comum de comunicar. Entendendo a importância dos processos nas manifestações artísticas, a Luciana Brito Galeria apresenta um conjunto de obras que reflete a diversidade e a individualidade de cada artista no exercício de experimentação, com obras de Geraldo de Barros (Brasil, 1923 – 1998), Regina Silveira (Brasil, 1939), Caio Reisewitz (Brasil, 1967), Rochelle Costi (Brasil, 1961), Fernando Zarif (Brasil, 1960 – 2010), Jorge Pardo (Cuba, 1963), Rafael Carneiro (Brasil, 1985), Iván Navarro (Chile, 1972), Bosco Sodi (México, 1970), Pablo Lobato (Brasil, 1976), Augusto de Campos (Brasil, 1931) e Gertrudes Altschul (Alemanha, 1904).

    Os “Dilatáveis” surgiram a partir da pesquisa acadêmica de Regina Silveira, na década de 1980, por meio da gravura com apropriação de imagens fotográficas, a partir do estudo da representação de sombras projetadas de forma exagerada e distorcida. Desde então, os conceitos da perspectiva e anamorfose  têm norteado a investigação da artista, que atualmente apresenta a série completa dos “Dilatáveis” na 34a Bienal de São Paulo.

    Luciana Brito Galeria apresenta, ainda, a série “Sun Paintings”, de Bosco Sodi, realizada pelo artista durante o isolamento social, por meio de sua experiência na Casa Wabi, no litoral mexicano. Aqui, o artista substituiu a tela tradicional por sacos de estopa usados para carregar pimentas secas. Apropriando-se da superfície grosseira do saco, Sodi pintou círculos “solares” em homenagem ao por do sol visto da Casa Wabi, valorizando a potência da simplicidade dos materiais de origem natural, como fibras e pigmentos. Já as pinturas de Rafael Carneiro apresentam método orgânico e livre, partindo do significado das imagens de sua vasta coleção, que são descontextualizadas, articuladas e resignificadas. Ainda através da pintura, nesta série de pequenos retratos Fernando Zarif conseguia expor sua forma frenética de produção, onde o criar estava associado a uma experiência simbiótica entre o artista e seus processos.

    Em sua última incursão artística, Geraldo de Barros criou a série “Sobras”, da qual Luciana Brito Galeria apresenta um conjunto de trabalhos pouco visto pelo público. Em “Sobras”, o artista revela um minucioso processo de criação, através de recortes, colagens e interposições a partir de seu próprio acervo fotográfico, criando e recriando narrativas de uma vida toda. Da mesma forma, Rochelle Costi utiliza imagens e imaginários ao seu redor para delinear campos de interesse nas suas fotografias, enquanto Caio Reisewitz resignifica a imagem por meio de técnica de diluição das formas, cores e texturas, trazendo uma fotografia posicionada entre o real e o imaginário.



  • Regina Silveira

    1939, Porto Alegre. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil.

    A pesquisa artística de Regina Silveira questiona as formas ortodoxas e preestabelecidas de representação, levando-a a trabalhar novas possibilidades de significações. Suas obras exploram o espaço arquitetônico e contextual, geralmente causando estranhamento, por meio do deslocamento do comum, ou seja, das nossas referências comuns. Regina Silveira é conhecida por sua pesquisa sobre os princípios da perspectiva, tridimensionalidade e estudo das sombras, que emprega em grandes instalações site specific, recortes em vinil, projeções luminosas, gravuras, bordados, porcelana, vídeos digitais etc.

  • BOSCO SODI

    1970, Cidade do México, México. Vive e trabalha entre Nova York, EUA, e Cidade do México

    A pesquisa de Bosco Sodi prima pela simplicidade de materiais de origem natural, como pigmentos, serragem, fibras, madeira, terra etc. A combinação desses elementos com a gestualidade de sua produção proporcionam um caráter excepcional a cada obra, além de atribuir uma conexão especial entre ele e sua prática de criação, que transcende o conceitual. Atualmente, e cada vez mais, sua produção utiliza técnicas antigas que, além de estabelecerem uma relação direta com o discurso etnobotânico, resgatam sua ancestralidade nativo-latino-americana. Bosco Sodi também associa essas técnicas a processos tradicionais e contemporâneos, dialogando com os movimentos land art e “informalismo”.

  • Augusto de Campos

    1931, São Paulo, Brasil. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil.

    Augusto de Campos é um dos maiores expoentes da poesia concreta no Brasil, além de ensaísta, tradutor, e crítico literário e musical. Sua criação artística é permeada pela experimentação da linguagem, através da ideia de unidade entre os diversos recursos comunicacionais, como palavra, som e imagem. Seus poemas visuais e poemas-objetos marcaram as décadas de 1960 e 70, sendo definitivos para posicioná-lo na vanguarda artística no Brasil. A partir de 1990, intensificou seus experimentos com as novas mídias, apresentando seus poemas em diferentes veículos, como outdoors elétricos, videotexto, neon, holograma, laser, computação gráfica, e em eventos multimídia, com os quais trabalha até os dias atuais.

  • Caio Reisewitz

    1967, São Paulo. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil.

    A pesquisa de Caio Reisewitz traz a fotografia como suporte principal. Através do refinamento técnico e temático, sua obra apresenta um interesse pela ação do homem e seus efeitos sociais e políticos, seja no espaço natural, seja no espaço arquitetônico. Enquanto sua técnica fotográfica exalta a dramaticidade entre formas, cores e texturas, sua poética artística constrói um repertório estético quase onírico. Esses aspectos estabelecem um diálogo dicotômico entre o real (aquele característico do registro fotográfico) e o quimérico (nossos próprios repertórios).

    • Caio Reisewitz Cassino IV, 2019 C-print em metacrilato | C-print on mounted Diasec 180 x 142 cm ed 2/5
      Caio Reisewitz
      Cassino IV, 2019
      C-print em metacrilato | C-print on mounted Diasec
      180 x 142 cm
      ed 2/5
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  • Fernando Zarif

    1960-2010, São Paulo, Brasil.

    Visionário e incessante questionador, Fernando Zarif é autor de uma vasta produção, na qual estabeleceu uma linguagem autêntica e independente dos preceitos culturais de sua época, associando-se a expressões de vanguarda, como performances e videoinstalações. Fernando Zarif é considerado uma das figuras mais emblemáticas da geração paulistana da década de 1980. A partir dos anos 1990, o artista passou a incorporar, em sua pesquisa, a apropriação de objetos diversos, mantendo ou não a integridade de seus materiais, mas sempre ressignificando-os. Além da escultura, do vídeo e da performance, o artista explorou outros suportes artísticos, como a escrita, o desenho, a pintura e a música.

  • Geraldo de Barros

    1923, Chavantes, SP – 1998, São Paulo, Brasil.

    Geraldo de Barros é um dos principais nomes da arte brasileira do século XX. Combinando seus primeiros estudos sobre pintura e um interesse posterior em fotografia, ele trabalhou os limites dos processos fotográficos tradicionais, questionando as regras clássicas de composição. Além da preocupação formal, vista claramente no concretismo brasileiro, do qual Geraldo de Barros participou intensamente, ele conseguiu fundi-la com suas preocupações sociais, o que o levou a abordar os processos industriais em seu trabalho, lidando coerentemente com as construções geométricas, reprodutibilidade, socialização da arte, teoria da forma e design industrial.

  • IVAN NAVARRO

    1972, Santiago, Chile. Vive e trabalha em Nova York, EUA.

    As obras de Iván Navarro atraem o público a partir da combinação de elementos que questionam nossa percepção. Por um lado, sob um ponto de vista formalista, seus trabalhos são cuidadosamente construídos, trazendo a luz como seu suporte principal. Luz que provoca os sentidos, ao mesmo tempo em que suscita um encantamento no espectador. A produção de Iván Navarro também é imbuída de conotações políticas, que são comunicadas ao público por inúmeras estratégias, como visto nos títulos de seus trabalhos, no cuidadoso uso da cor, na utilização de anagramas ou na apropriação e desconstrução de símbolos que representam ideologias e poder institucionalizado.

  • JORGE PARDO

    1963, Havana, Cuba. Vive e trabalha entre Mérida, México, e Nova York, EUA.

    A investigação de Jorge Pardo trata do conceito de funcionalidade, questionando os limites da arte, do design e dos espaços de convivência. Sua pesquisa evolui numa narrativa construtiva, como, por exemplo, a justaposição de técnicas diversas para compor um conjunto pictórico de referências não só da contemporaneidade, mas que também adentram o universo da própria história da arte. O artista geralmente utiliza tecnologia – foi um dos primeiros artistas a usar programas computadorizados para realizar suas esculturas – e cores vibrantes para realçar motivos ecléticos e diversificados utilizados em suas pinturas, esculturas e instalações.

  • Rafael Carneiro

    1985, São Paulo, Brasil. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil.

    O rigor técnico é uma das principais características do trabalho de Rafael Carneiro que, ao longo dos anos, vem se transformando dentro da pintura. A transcrição das imagens para a tela torna-se, por si só, a principal temática de sua obra, que procura evitar os rótulos e compromissos formais próprios da pintura, para se aproximar justamente do complexo universo de imagens da cultura e do imaginário coletivos. O significado das figuras utilizadas pelo artista dilui-se pela técnica aplicada, que descontextualiza, reconfigura e ressignifica, por meio da quebra de sua integralidade, subtraindo e somando novos elementos, de forma a compor narrativas mais complexas. Para isso, Rafael Carneiro utiliza-se de uma vasta coleção particular de imagens, das quais articula mais livremente diversas formas de composição, por meio de um processo orgânico de criação, que muitas vezes também inclui a música.

  • EDER SANTOS

    1960, Belo Horizonte, Brasil. Vive e trabalha em Belo Horizonte, Brasil.

    A pesquisa de Eder Santos lida com o hibridismo próprio da linguagem audiovisual, proporcionando, por meio de seus vídeos, verdadeiras experiências sensoriais, com planos de pinturas sonorizadas que combinam distorções de cores e sons. Explorando temáticas próprias do cotidiano mineiro, a pesquisa de Eder Santos demonstra compreender a importância da representatividade das mídias tecnológicas na cultura contemporânea, bem como suas responsabilidades como ferramentas universais de comunicação.

  • Rochelle Costi

    1961, Caxias do Sul, RS. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil.

    Rochelle Costi trabalha a memória afetiva; essa que normalmente levanta a poeira do nosso subconsciente, acionada por um dispositivo: a imagem. Sua pesquisa parte de seu próprio repertório imagético, para então ser formalizada através da técnica apurada da fotografia, vídeos e instalações. O colecionismo e a fotografia não só se complementam, mas também se fundem, levando o espectador a um confronto íntimo com esse universo, que passa a ser comum a todos.

  • PABLO LOBATO

    1976, Bom Despacho, MG. Vive e trabalha em Belo Horizonte, Brasil.

    A pesquisa de Pablo Lobato não se restringe a uma linguagem ou meio, operando de maneira colaborativa com cada material, situação ou contexto dado. Dessa forma, a articulação de seus trabalhos está mais voltada ao despertar sensorial que em qualquer regra de controle. Sua formação em artes, cinema e fotografia coloca-o numa posição híbrida de experimentação das potencialidades do “fazer ver”, promovendo relações sensíveis entre aspectos da pintura, do desenho, da escultura, da fotografia e do cinema.

  • Gertrudes Altschul

    1904, Alemanha - 1962, São Paulo, Brasil

    Gertrudes Altschul nasce na Alemanha em 1904 e, assim como muitos judeus na década de 1930, é obrigada a deixar o país, ameaçada pela ascensão do Nazismo. Assim, em 1939, junto com seu marido Leon Altschul, parte para o exílio no Brasil e se estabelece na cidade de São Paulo, no final do mesmo ano. Dois anos mais tarde, o núcleo familiar se recompõe com a chegada do único filho do casal, Ernest. Na capital paulista, Gertrudes passa a ser membro do Foto Cine Clube Bandeirante (FCCB) em 1952, como a única mulher integrante da Escola Paulista. Altschul dá continuidade à sua produção fotográfica no mesmo caminho iniciado pelos pioneiros (José Yalenti, Thomas Farkas, Geraldo de Barros e German Lorca), ou seja, a construção de uma estética moderna na fotografia brasileira dentro do FCCB, a partir de pesquisas feitas por eles sobre a escola Bauhaus, cujas teorias chegaram ao Brasil no pós-guerra.