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Caio Reisewitz
Mundo do Meio -
mundo do meio
Laymert Garcia dos SantosO grande matemático francês René Thom observou, certa vez, que “a parte da realidade que pode ser entendida de um modo racional é muito limitada; o resto da realidade, só podemos conhecer através de um ressoar empático com ela.”O comentário merece ser lembrado porque esta exposição se inscreve nesse “resto de realidade”. Com efeito, aqui, a arte de Caio Reisewitz consiste precisamente em trazer para o campo do visível um mundo que, de hábito, permanece envolto em mistério: o Mundo do Meio, onde tudo acontece nos interstícios, nos intervalos, no entremeio, no entre camadas das colagens. Nem cá nem lá, mas cá e lá de um alhures que se manifesta aqui e agora, o Mundo do Meio se mostra como zona de encontro, de dissolução de oposições, de continuidade inédita dos díspares, de disparação e ressonância. E... e..., em vez de ou... ou...O trabalho de Reisewitz se caracterizava, acima de tudo, pela busca da experiência máxima da alta definição na fotografia de paisagens e arquiteturas. Nos últimos anos as imagens começaram a entremear espaços da natureza com espaços construídos pelo homem – o dentro e o fora se insinuaram uns nos outros, dando lugar à “linguagem da arquitetura da paisagem”, segundo expressão empregada por Francis Alÿs. Agora, o artista dá um salto, levando o espectador a experimentar o Mundo do Meio, onde a superfície se abre para o insondável, onde a forma (re)conhecida cede à figuração quase-abstrata de uma outra cena.O Mundo do Meio é o da realidade das imagens espectrais. Sabemos que um espectro é uma visão; mas, também a expressão das amplitudes ou intensidades – o que geralmente traduz-se por energia – das reverberações de um sistema, quando discriminadas umas das outras em função de suas respectivas frequências.Nem ordinário, nem sobrenatural, o Mundo do Meio pertence ao mundo da realidade ampliada.
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Ateliê de Caio Reisewitz
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Caio Reisewitz
1967. São Paulo, Brasil. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil.A pesquisa de Caio Reisewitz traz a fotografia como suporte principal. Através do refinamento técnico e temático, sua obra apresenta um interesse pela ação do homem e seus efeitos sociais e políticos, seja no espaço natural, seja no espaço arquitetônico. Enquanto sua técnica fotográfica exalta a dramaticidade entre formas, cores e texturas, sua poética artística constrói um repertório estético quase onírico. Esses aspectos estabelecem um diálogo dicotômico entre o real (aquele característico do registro fotográfico) e o quimérico (nossos próprios repertórios).Formado em artes plásticas pela Universidade de Mainz (Alemanha), Caio Reisewitz tem especialização em poéticas visuais e mestrado pela Universidade de São Paulo. Dentre as bienais que participou estão a 23a Bienal de Sydney, Austrália (2022), Bienal de Artes de Nice, França (2022), Nanjing Biennale (2010), na China, a 26ª Bienal de São Paulo (2004) e 51ª Biennale di Venezia (2005). Também já teve seu trabalho apresentado no MUSAC – Museo de Arte Contemporáneo de Castilla e León (2010, Espanha); Instituto Moreira Salles Rio de Janeiro e São Paulo (2010, Brasil); Ella Fontanals-Cisneros Collection Miami (2005, 2010, EUA); ICP – International Center of Photography, Nova York (2014, EUA); Maison Europeénne de la Photographie, Paris (2015, França); Pinacoteca do Estado de São Paulo (2017, Brasil), além de Photo Xangai (2019, China). Em 2020, lançou o livro “Altamira”, a partir de coleção homônima adquirida pela Pinacoteca do Estado de São Paulo (Brasil). Sua obra pode ser encontrada em acervos como Cisneros Fontanals Art Foundation (EUA); Fundación ARCO Madrid (Espanha); Collezione Fondazione Guastalla (Itália); Fond National d'Art Contemporain (França); MUSAC (Espanha); MAM - Museu de Arte Moderna de São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador (Brasil); Musée Malraux (França), Pinacoteca do Estado de São Paulo, entre outros.