Raphael Zarka | Gnomonic Woods

Luciana Brito Galeria, São Paulo, 2025
14 Julho 2025

Raphaël Zarka parte do experimentalismo teórico e científico para embasar sua pesquisa artística, que recai principalmente sobre a potencialidade escultórica das estruturas, como volumes e geometrias, bem como suas histórias e contextos, influenciado pela arquitetura, urbanidade, além das histórias da arte e da ciência. O artista apresenta um interesse especial pela geometria, pois é uma linguagem comum a vários diferentes campos (como a arte, a ciência e o técnico), inclusive para objetos feitos pelo homem, em particular aqueles que foram esquecidos ou negligenciados.


Para isso, desde 2001, o artista tem se debruçado sobre toda a complexidade que envolve o rombicuboctaedro, um sólido geométrico tridimensional que pertence à família dos arquimedianos, ou seja, formas calculadamente simétricas compostas por mais de um tipo de polígono regular. Essa investigação o levou a conhecer os famosos relógios de sol (estruturas de pedra usadas para medir o tempo, cujas configurações escultóricas e funcionais são altamente complexas), principalmente os escoceses dos séculos 17 e 18, cuja composição também apresenta esse tipo de estrutura rombicuboctaedra, combinadas a padronagens específicas, motivos e volumes geométricos e, obviamente, funcionalidade. Essas “esculturas gnomônicas” nunca foram consideradas de forma justa pelos historiadores e, como o própria artista enfatiza, são “parte importante e esquecida (ou até desconhecida) da história da escultura e, mais precisamente, da abstração geométrica”. Esses relógios de sol atualmente representam o principal interesse da investigação de Raphael Zarka, autor inclusive de um catálogo raisonné com mais de cem registros de rombicuboctaedros.


Essa grande pesquisa norteia a série de trabalhos que dá nome à exposição, Gnomonic Woods (2025). Embora inspiradas no vocabulário esotérico que compõe os relógios de sol (círculos, semi-circulos, corações, triângulos, cruzes, trapézios etc), essas xilogravuras trazem a espontaneidade do momento da produção em estúdio e revelam os cerne da prática escultórica do artista, que traz os sistemas combinatórios agora aplicados à linguagem pictórica. Essa é a primeira vez que ele trabalha sem planejamento, seguindo um protocolo que permite o acaso tanto na sobreposição de cores, quanto na desconstrução dos elementos do relógio do sol, diversificando as formas. Tecnicamente, a prática é similar à da xilografia, onde ele cobre com tinta os pedaços de madeira recortados em triângulos, círculos, quadrados etc, e aplica no papel. Uma vez pronta a composição, o artista fixa o papel em uma placa de madeira, elemento recorrente na sua prática e que também surge como uma maneira de experimentar sobreposições de formas e cores. Essas camadas de processo tornam cada trabalho único.