Artista Visitante | Alberto Simon
Passadas exhibition
Apresentação
Uma das dificuldades da arte, hoje, diz respeito à nossa capacidade de julgar o que nos é apresentado como tal, posto que não se diferencia substancialmente de coisas, processos e ambientes comuns em nosso dia a dia. Pois, no lugar do que seria uma espécie de vácuo, esse espaço interpretativo já está, por sua vez, amplamente congestionado por densos discursos e expedientes de mediação, muitos deles alheios à cultura.
Em outros momentos, Alberto Simon já havia se concentrado na disfunção entre proposta curatorial e proposição artística, criando pistas falsas que, por levarem o espectador a alguma frustração, acabavam lhe permitindo restituir uma relação mais elementar e objetiva com seu próprio trabalho. “Arte e Cocaína, 1950-2000: uma sondagem” (2006), por exemplo, é uma mostra que não trata, especificamente, nem de arte nem de cocaína, mas de algo que brotou no contexto das artes como a necessidade de um “gancho temático” para qualquer exposição.
Esse ponto de vista praticamente irônico está na origem desse novo projeto: “eu ponho uma coisa pé no chão na história, é a casa --o programa no qual eu estou expondo se chama Residência, uma coisa assim, entendeu? Então, o que você faz: tem lá uma cama de casal, um quarto. Você trepa, por exemplo. Muito banal, é coisa tropicália: vou pôr uma..., a gente está nos trópicos?, eu vou por umas plantas. Os manequins fazendo sexo, eles não têm genitália, é muito banal; do ponto de partida, é despretensioso.”
Os bancos embalados com um plástico transparente nos quais são vendidos em lojas do ramo são os primeiros elementos com os quais temos contato. Apesar de formarem um modesto auditório, não poder sentar-se neles, de cara, torna-se mais palpável do que quaisquer percepções de ordem estética, mesmo que estas sejam incontornáveis como a luz natural. Existem ainda mesinhas com revistas também plastificadas, como em uma sala de espera, e um conjunto de bujões de gás vestidos com capas com padronagem “caseira”. Adiante, cortinas indicam que um drama pode começar a qualquer momento.
Cabe, então, repensar o conceito de multiuso no âmbito da arquitetura residencial, na década de 1950. Quando se chega à conclusão de que o casal de manequins, sem genitália e nú, é o núcleo semântico da instalação, o público, que imaginava ser também participante, está diante do que não lhe proporciona qualquer excitação real --algo virtualmente possível em um espaço privado, até mesmo naquela casa. Surge, assim, a hipótese de que a lembrança do trabalho, tempos depois, evoque algo afetivo, como se para compensar a impossibilidade e desconfiança da eficácia da própria interação.
Conclui-se que aquela pode ser tanto uma casa de família, como um consultório de psicanálise. Ou seja, o que seria contextual garante que o mesmo local possa ser utilizado para atividades diferentes, a partir de atitudes e gestos específicos: ajoelhar-se para rezar, deitar no divã, transar.
Rafael Vogt Maia Rosa
Installation Views