Rafael Carneiro | Casa Família Deleite
Passadas exhibition
Apresentação
Luciana Brito Galeria tem o prazer de anunciar a primeira exposição de 2021, "Casa Família Deleite", individual de Rafael Carneiro. A mostra ocupa não apenas o espaço anexo, mas também os ambientes da antiga residência modernista, projetada por Rino Levi. "Casa Família Deleite" apresenta mais um desdobramento da pesquisa contínua do artista, com vinte obras inéditas, entre pinturas e desenhos, concebidas nos últimos dois anos. Rafael Carneiro apresenta aqui um conjunto diversificado de trabalhos, que procura se esquivar dos rótulos e compromissos formais próprios da pintura para se aproximar justamente do complexo universo de imagens da cultura e imaginário coletivos.
O rigor técnico é uma das principais características do trabalho de Rafael Carneiro, que ao longo dos anos vem desenvolvendo uma pesquisa muito original dentro da pintura. O artista desenvolve uma metodologia de transcrição das imagens, que passa da fotografia e do seu próprio repertório para a tela de pintura, tornando-se por si só a principal temática de sua obra. O significado imagético das figuras utilizadas dilui-se pela técnica aplicada, que descontextualiza, reconfigura e resignifica. Trata-se de uma vasta coleção particular de imagens, que o artista utiliza para articular mais livremente diversas formas de composição, por meio de um processo orgânico de criação.
Inicialmente, a investigação de Carneiro se contentava em transpor integramente as imagens fotográficas para a tela de pintura, num processo mais associado ao fotorrealismo. Aos poucos, veio a necessidade de quebrar a integralidade dessas imagens, subtraindo e somando novos elementos a elas, de forma a compor narrativas mais complexas. Essa técnica funciona como “colagens” de cortes de diferentes realidades, que quando combinadas ganham a autonomia de contar outras histórias. Assim acontece na obra “Pássaros” (2020), apresentada na mostra, que demonstra bem essas articulações de significados diversos por meio de imagens da coleção do artista, associadas a outras totalmente originais.
Em “Balthus-chiclete” (2020), personagens de Balthus (1908-2001) recebem um banho aleatório de chiclete. Embora o título e os elementos sejam inspirados na obra original do artista polonês (radicado na França), a relação não deve ser considerada categórica. Já em “Totoro” (2020) e “Rauchiana” (2020), as imagens que são completamente originais também podem ser consideradas traduções imagéticas do repertório do artista, com a diferença de que “Rauchiana” faz uma referência direta ao pintor alemão Neo Rauch (1960), compondo um estudo-homenagem da obra desse artista. Essas figuras imaginárias formam composições surrealistas, como que saídas de um sonho colorido. Em outro conjunto de pinturas, “Pelados” (2020) e “Pelados 1” (2020), o artista desconstruiu uma publicação sobre nudismo para compor narrativas próprias, que fazem referência a esse universo de natureza e liberdade. Essas imagens transmitem o despojamento da emancipação do corpo nu, ao passo que os posicionam de maneira pouco confortável, talvez até meio cômica, nos ambientes da galeria, já que poderão ser vistas despretenciosamente pelos cômodos da residência projetada por Rino Levi.
A exposição também reúne um conjunto de sete desenhos, todos técnica mista sobre papel, de menores dimensões. Neles, o artista associa figuras, formas e manchas de cores, por meio de giz de cera coloridos, colagens e pintura, que juntos compõem narrativas de histórias imaginárias, quase lúdicas. Esses elementos originais nos parecem familiar, pois fazem parte de um repertório comum, popular. Ao observa-los, nosso olhar é conduzido por todos os cantos da obra. Não há objeto principal. Não há temática principal. O artista nos conta uma história, mas o espectador é quem decodifica seu sentido.
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