Waldemar Cordeiro | Geometria Intuitiva
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Apresentação
Waldemar Cordeiro foi um dos principais agentes da história da arte brasileira, figura chave para a transição da arte moderna para a contemporaneidade, sendo precursor de movimentos artísticos, como o Concretismo e a Computer Art no Brasil e no exterior, além de exímio paisagista. Com ideias e conceitos atemporais, toda a sua produção artística, interdisciplinar, seguiu uma evolução coerente, passando por fases de investigação que atualmente representam marcos dentro das artes visuais no Brasil, como a figurativa, Arte Concreta, Popcreto e Arte de Computador. Tão importante quanto, uma destas fases é muito pouco estudada e praticamente desconhecida do público: “Geometria Intuitiva”.
Situada cronologicamente entre as fases da Arte Concreta e Popcreto, entre 1960 e 1963, a fase Geometria Intuitiva ganha, pela primeira vez na história, o reconhecimento de sua importância com a exposição “Waldemar Cordeiro: Geometria Intuitiva”, na Luciana Brito Galeria. Enquanto a fase Concretista (déc. de 1950), que partia da renovação dos valores das artes visuais e do processo criativo, seguindo um apelo estético Construtivista, trabalhava com as cores primárias (amarelo, vermelho e azul) e linhas geométricas precisas, a Geometria Intuitiva de Cordeiro também manteve a mesma organização espacial da tela, mas deixou de lado a régua e o compasso para aderir ao desenho e às cores livres, ou seja, as cores primárias combinadas para atingir outras tonalidades, como as acrescidas de branco ou preto, ou misturadas entre si. Ambas as pesquisas, a Concreta e a Geometria Intuitiva, combinavam as cores em composições espacialmente organizadas para atingir diretamente a percepção inata do espectador.
De acordo com os princípios da Gestalt, o todo é mais importante do que as partes, sendo o conjunto completo da composição o que irá envolver os sentidos de quem a observa, que entende a informação por meio níveis de interpretação, desde a visualidade primeira até nossas emoções e repertórios próprios. A estes conceitos, que já vinham sendo estudados pelo Concretismo, a “Geometria Intuitiva” de Cordeiro associou na abstração, numa ousadia inédita, o cromatismo tipicamente brasileiro. As variantes tonais que refletem o clima e a luminosidade próprios da tropicalidade, como os rosas, verdes, laranjas, roxos, amarelos, etc, foram combinadas nas telas de pinturas a óleo, por meio de traços que muitas vezes foram inspirados da morfologia das plantas brasileiras, outro interesse de Cordeiro, que a essa altura, já estudava as plantas nativas da Serra do Mar. Totalizando mais de 30 trabalhos, além das pinturas da série “Geometria Intuitiva”, a mostra reúne um conjunto de desenhos raros realizados por Cordeiro para ilustrar sua investigação botânica, estabelecendo um diálogo direto com a própria cena paisagística criada por Burle Marx, presente no espaço modernista da galeria.
Cordeiro dedicou sua vida por uma arte acessível a todos, buscando um senso coletivo que alinhava a tecnologia, design e o paisagismo, sempre associada a uma preocupação social e política. Seu legado quebrou paradigmas e transformou a forma como ver e fazer arte no Brasil, incorporando a ela conteúdo e objetividade. O que poucos consideram, no entanto, é a importância da fase da “Geometria Intuitiva” em trazer conceitos pertinentes à uma visualidade tipicamente brasileira na abstração, fato que o posiciona como o grande pivô na transição para a arte contemporânea no Brasil.
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