-
14.06 - 02.08.25
Raphael Zarka
Gnomonic Woods
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
Raphaël Zarka parte do experimentalismo teórico e científico para embasar sua pesquisa artística, que recai principalmente sobre a potencialidade escultórica das estruturas, como volumes e geometrias, bem como suas histórias e contextos, influenciado pela arquitetura, urbanidade, além das histórias da arte e da ciência. O artista apresenta um interesse especial pela geometria, pois é uma linguagem comum a vários diferentes campos (como a arte, a ciência e o técnico), inclusive para objetos feitos pelo homem, em particular aqueles que foram esquecidos ou negligenciados.Para isso, desde 2001, o artista tem se debruçado sobre toda a complexidade que envolve o rombicuboctaedro, um sólido geométrico tridimensional que pertence à família dos arquimedianos, ou seja, formas calculadamente simétricas compostas por mais de um tipo de polígono regular. Essa investigação o levou a conhecer os famosos relógios de sol (estruturas de pedra usadas para medir o tempo, cujas configurações escultóricas e funcionais são altamente complexas), principalmente os escoceses dos séculos 17 e 18, cuja composição também apresenta esse tipo de estrutura rombicuboctaedra, combinadas a padronagens específicas, motivos e volumes geométricos e, obviamente, funcionalidade. Essas “esculturas gnomônicas” nunca foram consideradas de forma justa pelos historiadores e, como o própria artista enfatiza, são “parte importante e esquecida (ou até desconhecida) da história da escultura e, mais precisamente, da abstração geométrica”. Esses relógios de sol atualmente representam o principal interesse da investigação de Raphael Zarka, autor inclusive de um catálogo raisonné com mais de cem registros de rombicuboctaedros.Essa grande pesquisa norteia a série de trabalhos que dá nome à exposição, Gnomonic Woods (2025). Embora inspiradas no vocabulário esotérico que compõe os relógios de sol (círculos, semi-círculos, corações, triângulos, cruzes, trapézios etc), essas xilogravuras trazem a espontaneidade do momento da produção em estúdio e revelam os cerne da prática escultórica do artista, que traz os sistemas combinatórios agora aplicados à linguagem pictórica. Essa é a primeira vez que ele trabalha sem planejamento, seguindo um protocolo que permite o acaso tanto na sobreposição de cores, quanto na desconstrução dos elementos do relógio do sol, diversificando as formas. Tecnicamente, a prática é similar à da xilografia, onde ele cobre com tinta os pedaços de madeira recortados em triângulos, círculos, quadrados etc, e aplica no papel. Uma vez pronta a composição, o artista fixa o papel em uma placa de madeira, elemento recorrente na sua prática e que também surge como uma maneira de experimentar sobreposições de formas e cores. Essas camadas de processo tornam cada trabalho único.Também parte da exposição, para as esculturas da série Prismatiques (2013) o artista transforma módulos maciços de madeira Jatobá em peças em formato de cunha (madeira cortada em ângulo agudo utilizada para apertar ou ajustar objetos) assentadas em combinações distintas sobre base de concreto. Além de trabalhar a uniformidade e exatidão do corte da madeira, cada escultura exalta a randomicidade das fissuras naturais. A precisão do corte também foi aplicada na obra La Deduction de Wenzel (2013), mas utilizando a técnica da subtração. Aqui, o artista extrai formas geométricas de placas de madeira compensada para resgatar conceitos relacionados à história da pintura e estudos sobre perspectiva, como uma forma de se situar também como um observador e admirador da arte.Já na parede principal da Sala Modernista da galeria, o artista apresenta uma pintura de parede projetada exclusivamente para a exposição. Pensada para representar a localização da cidade de São Paulo, a pintura traz linhas transversais que não apenas representam a latitude da cidade, como também fazem uma alusão aos ponteiros, que nos relógios de sol são chamados de gnomon, ou ponteiros de sombra. Na pintura, as tonalidades das cores pastéis remetem ao degradê das sombras, interrompidas por duas pinturas menores que retratam os relógios de sol, produzidas por machetaria, tinta e gesso. Os processos de criação envolvem um estudo profundo de outras gravuras ou objetos, projeção da versão 3D e finalizando com a renderização axonométrica. A machetaria, técnica artesanal que consiste em incrustar pequenas peças de madeira, remete à técnica utilizada pelo artista na combinação das peças de madeira da série Prismatiques.
Raphaël Zarka grounds his artistic practice in theoretical and scientific research, focusing primarily on the sculptural potential of structures – including volumes and geometries – and their contexts and histories, influenced by architecture, urban life, and the histories of art and science. He maintains a special interest in geometry, as it is a common language across different fields (such as art, science, and technical domains), as well as for human-made objects, especially those that have been forgotten or overlooked.
Since 2001, the artist has been exploring the rhombicuboctahedron, a complex three-dimensional geometric solid. This shape belongs to the Archimedean family – precisely symmetrical forms composed of more than one type of regular polygon. This investigation led him to a study of sundials (stone structures used to measure time, whose sculptural and functional configurations are highly complex), particularly Scottish ones from the 17th and 18th centuries. Their designs also feature this type of rhombicuboctahedral structure, combined with specific patterns, motifs, geometric volumes, and, of course, functionality. These “gnomonic sculptures” have never been fairly considered by historians and, as the artist emphasizes, they are “an important and forgotten (or even unknown) part of the history of sculpture and, more precisely, of geometrical abstraction.” These sundials, therefore, are now the central focus of Zarka’s research. He has also compiled a catalogue raisonné featuring over one hundred documented examples of rhombicuboctahedra.
This broad line of research underpins the series of works that gives the exhibition its title, Gnomonic Woods (2025). Although inspired by the esoteric vocabulary found in sundials – circles, semicircles, hearts, triangles, crosses, trapezoids, and so on – these woodcut prints convey the spontaneity of studio production and reveal the core of the artist’s sculptural practice, now transposed into pictorial language through combinatorial systems. This is the first time he has worked without prior planning; following a protocol that embraces chance, he allows for spontaneous color layering and deconstruction of sundial elements, yielding a wide variety of forms. Technically, the process is similar to woodcut: he inks pieces of wood cut into triangles, circles, squares, and other shapes, then presses them onto paper. Once the composition is complete, the artist mounts the paper onto a wooden board – a recurring element in his work and also a way of experimenting with overlays of shapes and colors. These layered processes make each work unique.
Also part of the exhibition, for the Prismatiques (2013) sculptures, the artist transforms solid blocks of jatobá wood into wedge-shaped pieces, then arranges them in distinct combinations atop concrete bases. Besides exploring the uniformity and precision of the woodcut, each sculpture highlights the randomness of natural fissures. Zarka applied the same precision to the work La Déduction de Wenzel (2013), but through a subtractive technique. In this work, he carved geometric forms from plywood boards to revisit concepts related to the history of painting and studies in perspective. This approach positions him as both a creator and observer of art.
On the main wall of the gallery’s Modernist Room, Zarka is presenting a wall painting created exclusively for the exhibition. Conceived to represent São Paulo’s geographic position, the work features diagonal lines indicating the city’s latitude while also alluding to sundial pointers – called gnomons, or shadow hands. The painting’s pastel tones evoke the gradient of shadows, interrupted by two smaller works that depict sundials, made using marquetry, paint, and gesso. The artist’s process of creating these works involves a thoroughgoing study of prior etchings or existing objects, projecting their 3D versions, and then finishing their representation after axonometric rendering. Marquetry, a traditional technique involving the inlay of small wooden pieces, echoes the method that Zarka used to assemble the wooden elements of the Prismatiques.
-
-
Raphael Zarka
1977, Montpellier, França. Vive e trabalha em Paris, França.Raphael Zarka parte do experimentalismo teórico para construir sua pesquisa artística, que atravessa por diversas mídias, incluindo pintura, escultura, fotografia e vídeo. Seu interesse principal situa-se na potencialidade escultórica das estruturas, seus volumes e geometrias, influenciado pela arquitetura e urbanidade. O artista frequentemente colabora com comunidades locais para seus projetos, que exploram a história e a materialidade dos objetos e espaços envolvidos. O skateboarding, particularmente, representa um elemento importante na sua investigação, não apenas pela cultura que envolve essa prática, mas também pela dinâmica das superfícies utilizadas, como as rampas, por exemplo. Pode-se dizer que o ponto de convergência de seu trabalho é a mudança de significado das formas de acordo com o espaço e o tempo em que estão inseridas.O artista é graduado em Artes pela Winchester School of Art, na Inglaterra, e pela École Nationale Supérieure des Beaux-Arts, em Paris. Dentre as exposições individuais, estão: Centre Pompidou (2024, Paris, França), Centre régional d’art contemporain, (2020, Le Havre, França), Koffler Center of the Arts (2019, Toronto, Canadá), National Museum of Contemporary Art (2019, Romênia), Musée d’Art Modern (2016, Toulouse, França), Le Corbusier – Villa Savoye (2013, França), etc. Suas principais participações em exposições coletivas são: Biennale d'art contemporain d'Enghien (2022, Bélgica), Centre Regional d’Art Contemporain (2021, Montbéliard, França), Museé d’Art Contemporain (2019, Bordeaux, França), Museo Nazionale delle arti del XXI Secolo (2018, Roma, Itália), Centre Georges Pompidou (2016, Paris, França), Museu de Arte do Rio – MAR (2014, Brasil), Palais de Tokyo (2012, Paris, França), Museum of Contemporary Art (2010, Detroit, EUA), etc. Suas obras figuram entre diversas coleções públicas e privadas, como Centre George Pompidou (França), Fonds National d’Art Contemporain (França), Museé d’Art Moderne de Paris (França), dentre outros.Raphaël Zarka's artistic research starts from theoretical experimentalism, which crosses various media, including painting, sculpture, photography and video. His main interest lies in the sculptural potential of structures, their volumes and geometries, influenced by architecture and urbanity. The artist frequently collaborates with local communities to create his projects, which explore the history and materiality of the objects and spaces involved. Skateboarding, in particular, represents an important element in his investigation, not only for the culture that surrounds that practice, but also for the dynamics of the surfaces used, such as ramps. Also, it is worth mentioning that the point of convergence of his work is a change in the meaning of the forms according to the space and time in which they are inserted.
Raphaël Zarka graduated in Arts from the Winchester School of Art, in England, and from the École Nationale Supérieure des Beaux-Arts, in Paris. Among the solo exhibitions, there are the ones at Center Georges Pompidou (2024, Paris, France), Center régional d’art contemporain, (2020, Le Havre, France), Koffler Center of the Arts (2019, Toronto, Canada), National Museum of Contemporary Art (2019, Romênia), Musée d’Art Modern (2016, Toulouse, France), Le Corbusier – Villa Savoye (2013, French), etc. His main participations in group exhibitions are: Biennale d'art contemporain d'Enghien (2022, Belgium), Center Regional d’Art Contemporain (2021, Montbéliard, France), Museé d’Art Contemporain (2019, Bordeaux, France), Museo Nazionale delle arti del XXI Secolo (2018, Rome, Italy), Center Georges Pompidou (2016, Paris, France), Museu de Arte do Rio – MAR (2014, Brazil), Palais de Tokyo (2012, Paris, France), Museum of Contemporary Art (2010, Detroit, USA), etc. His works feature among various public and private collections, such as Center George Pompidou (France), Fonds National d'Art Contemporain (France), Museé d'Art Moderne de Paris (France), among others.