A linha do trem passava no fundo do quintal de Pity. Desde que se conhecia por gente o ritmo dos dias era marcado pelo apito da locomotiva cruzando a única...
A linha do trem passava no fundo do quintal de Pity. Desde que se conhecia por gente o ritmo dos dias era marcado pelo apito da locomotiva cruzando a única rua de seu povoado. A família tinha um sítio e viviam do cultivo de árvores frutíferas. A pequena estação ficava próxima ao pomar e três vezes por semana o pai levava as caixas para comercializar na cidade. Quando chegou aos quinze anos, quis acompanhar o pai na labuta. Saiam cedinho, ela ficava no mercado enquanto ele fazia as entregas nas quitandas locais. Um dia, enquanto desembarcava com as caixas vazias, trocou olhares com um passageiro muito bem apessoado. Coinscidência ou não, todos os dias ele se fez presente no mesmo horário e vagão. Uma tarde porém, ela não o avistou e intimamente estranhou sua ausência. Chegou ao sítio, passou no depósito com o pai e chegando em casa viu que a mãe 'fazia sala' para alguém. Percebeu então que se tratava do rapaz do trem. O mesmo voltou-se para o pai e para ela e apresentou-se. Era um agrimensor e procurava um quarto para alugar por alguns meses, enquanto realizava um trabalho nas redondezas. Casualmente havia na casa o quarto vago do irmão de Pity que fora estudar na capital. O homem ali instalou-se, e a todos agradava com sua presença. Passados três meses, ele havia acabado o serviço e era hora de partir. A família entristeceu-se, por uma semana o silêncio imperou entre eles. Voltando do mercado no domingo, Pity viu movimento na casa. Lá estava ele de volta, trazia no bolso duas alianças de noivado.