A produção de Héctor Zamora trata de questões sócio-políticas para muitas das quais é possível encontrar paralelos pela América Latina afora. Seu processo passa pela reflexão do espaço arquitetônico e...
A produção de Héctor Zamora trata de questões sócio-políticas para muitas das quais é possível encontrar paralelos pela América Latina afora. Seu processo passa pela reflexão do espaço arquitetônico e se apoia na construção – urbana, estrutural ou escultural – para pensar, também, na construção social.
Em "Capa-Canal", o artista apresenta a performance realizada no contexto da 11a Bienal do Mercosul, em 2018, onde treze pessoas de diversas raças e sexo produzem centenas de telhas de barro utilizando as próprias coxas como moldes, para então posicioná-las lado a lado no chão, formando uma grande instalação escultórica.
A ação faz uma alusão direta à expressão brasileira "feito nas coxas", comumente utilizada para caracterizar algo mal feito. Essa expressão, acredita-se, teve origem com antigo sistema de manufatura das telhas no Brasil, o que é uma ficção, onde utilizava-se mão-de-obra escravizada, atribuindo singularidade em cada peça confeccionada. A falta de habilidade dos escravizados na produção das telhas "nas coxas" pode ser a origem desse dito popular, estabelecendo uma relação paradoxal com o título da obra, já que "capa e canal" é o nome de uma das telhas mais utilizadas no Brasil, pois oferece um design diferenciado para proporcionar um encaixe perfeito. A obra de Héctor Zamora, dessa forma, levanta questões relacionadas não apenas ao período de escravidão no Brasil, mas sobretudo ao racismo estrutural que ainda opera no país.
La obra de Héctor Zamora aborda cuestiones sociopolíticas, muchas de las cuales se pueden encontrar paralelismos en toda América Latina. Su proceso implica reflexionar sobre el espacio arquitectónico y utiliza la construcción -urbana, estructural o escultórica- para pensar también en la construcción social.
En "Capa-Canal", el artista presenta una performance realizada en el contexto de la XI Bienal del Mercosur en 2018, en la que trece personas de diferentes razas y sexos produjeron cientos de tejas de arcilla utilizando sus muslos como moldes, y luego las colocaron una al lado de la otra en el suelo, formando una gran instalación escultórica.
La acción hace alusión directa a la expresión brasileña "feito nas coxas", utilizada comúnmente para caracterizar algo mal hecho. Se cree que esta expresión tiene su origen en el antiguo sistema de fabricación de tejas en Brasil, lo cual es una ficción, en el que se utilizaba mano de obra esclava, atribuyendo singularidad a cada pieza fabricada. La falta de habilidad de los trabajadores esclavizados para producir las tejas "a muslo" puede ser el origen de este dicho popular, estableciendo una relación paradójica con el título de la obra, ya que "capa y canal" es el nombre de una de las tejas más utilizadas en Brasil, pues ofrece un diseño diferente para proporcionar un ajuste perfecto. La obra de Héctor Zamora plantea así cuestiones relacionadas no sólo con el período de la esclavitud en Brasil, sino sobre todo con el racismo estructural que aún opera en el país.
Héctor Zamora's work deals with socio-political issues for many of which parallels can be found throughout Latin America. His process involves reflecting on architectural space and drawing on construction - urban, structural or sculptural - to also think about social construction.
In Capa-Canal, the artist presents a performance carried out in the context of the 11th Mercosur Biennial in 2018, in which thirteen people of different races and sex produced hundreds of clay tiles using their thighs as moulds, and then placed them side by side on the floor, forming a large sculptural installation.
The action is a direct allusion to the Brazilian expression "feito nas coxas", commonly used to characterise something poorly made. This expression, it is believed, originated with the old system of manufacturing roof tiles in Brazil, which is a fiction, where enslaved labour was used, attributing uniqueness to each piece made. The lack of skill on the part of the enslaved labourers in producing the tiles "on their thighs" may be the origin of this popular saying, establishing a paradoxical relationship with the title of the work, since "capa e canal" is the name of one of the most widely used tiles in Brazil, as it offers a different design to provide a perfect fit. Héctor Zamora's work thus raises issues related not only to the period of slavery in Brazil, but above all to the structural racism that still operates in the country.