Gertrudes Altschul nasce na Alemanha em 1904 e, assim como muitos judeus na década de 1930, é obrigada a deixar o país, ameaçada pela ascensão do Nazismo. Assim, em 1939,...
Gertrudes Altschul nasce na Alemanha em 1904 e, assim como muitos judeus na década de 1930, é obrigada a deixar o país, ameaçada pela ascensão do Nazismo. Assim, em 1939, junto com seu marido Leon Altschul, parte para o exílio no Brasil e se estabelece na cidade de São Paulo, no final do mesmo ano. Dois anos mais tarde, o núcleo familiar se recompõe com a chegada do único filho do casal, Ernest.
Na capital paulista, Gertrudes passa a ser membro do Foto Cine Clube Bandeirante (FCCB) em 1952, como a única mulher integrante da Escola Paulista. Altschul dá continuidade à sua produção fotográfica no mesmo caminho iniciado pelos pioneiros (José Yalenti, Thomas Farkas, Geraldo de Barros e German Lorca), ou seja, a construção de uma estética moderna na fotografia brasileira dentro do FCCB, a partir de pesquisas feitas por eles sobre a escola Bauhaus, cujas teorias chegaram ao Brasil no pós-guerra.
Em consonância com as pesquisas de linguagem da Escola Paulista, Gertrudes quebra as regras de composição clássica ao utilizar, em suas imagens, sombra e luz, linhas, planos e ritmos, formas abstratas, ângulos oblíquos e motivos geométricos. A fotografia para ela é um meio de expressão, e o experimentalismo, uma forma de ratificar a fotografia como uma ferramenta artística.
Ao explorar a arquitetura moderna em suas imagens, ela procura a diluição do referencial. Como por exemplo em Linhas e tons, onde a organização da imagem se dá na justaposição da forma plana de um prédio e de uma linha curva, em mosaico arquitetônico que sobe verticalmente no enquadramento. Gertrudes enfatiza os jogos de linhas e planos, descentralizando o interesse pelos objetos em si. A artista privilegia o elemento arquitetônico como gerador de composições geométricas, as quais confundem o espectador em relação aos códigos da visão por meio de ângulos incomuns.
A investigação formal aparece também no uso da fotomontagem, que é uma constante na sua atividade artística. Na fotografia Composição, ela faz uma intervenção na imagem ao projetar em uma mesma cópia fotográfica três edifícios, fotografados de ângulos diferentes por meio de uma tomada inferior, organizando o conjunto de maneira que o espaço entre eles forme um triângulo frontal. A composição apresenta um forte apelo geométrico, que provoca também um desordenamento no olhar, ao contrariar o enquadramento frontal.
Ao buscar ultrapassar os limites da linguagem fotográfica impostos pela câmera, Gertrudes utiliza o recurso da solarização e do fotograma no laboratório fotográfico. Faz experimentações com motivos botânicos e cria uma série de fotogramas com folhas. São recorrentes nas suas obras objetos e materiais do seu entorno doméstico, característica esta predominante na produção artística feminina da época.
Em 1962, com sua morte, a carreira é interrompida de modo prematuro. Ainda assim, a artista deixa um importante legado para a fotografia moderna brasileira, e atualmente sua obra é reconhecida no país e no exterior.
Em 2015, com a exposição de suas fotografias na Casa da Imagem, em São Paulo, com curadoria de Isabel Amado – que desde 2015 cuida do acervo Gertrudes Altschul –, o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) adquire doze fotografias vintage para sua coleção.