A investigação de Jorge Pardo aborda conceitos relacionados à funcionalidade, especialmente quando beira o absurdo e a pureza do objeto. Um dos pontos fortes de sua pesquisa está justamente no constante questionamento dos limites da arte, interesse que pode ser explicado pela sua formação como arquiteto e designer. Em 2020, o artista se apresentou no Brasil pela primeira vez, com a exposição "Flamboyant", onde criou um grande "espaço de estar", composto pelas suas icônicas luminárias e cadeiras de balanço, no Octógono da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Juntas, as obras compõem o imaginário de um ambiente doméstico, estabelecendo um paradoxo bem ao gosto do artista: até onde ela pode chegar?
“Para o Octágono da Pinacoteca, Jorge Pardo (*1963 em Havana, Cuba) apresenta uma instalação interativa inédita que convida o público a experimentar um momento de fruição e de contemplação. Pardo vem utilizando-se das linguagens do desenho e da escultura a fim de explorar os limites entre a arte, o design, o artesanato e os espaços de convivência. ‘Flamboyant’ é composto de cadeiras de balanço, luminárias e um tapete, todos desenhados por Pardo, inclusive as cadeiras e luminárias fabricados no ateliê do próprio. O conjunto propõe evocar uma experiência familiar à do descanso sob o pé de uma árvore, convidando o visitante a desfrutar das frondosas peças que, assim como o flamboyant, exalam uma beleza transitória.
‘Flamboyant’ também homenageia a pintura The Painter’s Studio [O ateliê do pintor], pintura icônica do artista francês Gustave Courbet de 1855, reconhecida como espécie de alegoria de seu tempo e ruptura com a academia na direção ao realismo do século 19.
Transformando algumas das figuras da obra de Courbet em ornamentos para as cadeiras, Pardo celebra a coragem do pintor, mas também questiona o que se espera de um artista no presente e o que constitui uma obra de arte hoje em dia.
Para Pardo, não há separação entre as chamadas belas artes e artes aplicadas. Ele desenvolve exposições em museus e galerias da mesma forma que desenha hotéis, restaurantes, casas particulares e espaços públicos. Ampliando sua própria definição de produção, ele investiga fundamentalmente os limites da arte. Sua obra na Pinacoteca dialoga ainda com a arquitetura e a história do edifício do próprio museu que, até 1911, sediou o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, num momento que as disciplinas eram integradas também aqui." Jochen Volz