Neto tinha carteirinha da Sorocabana e com ela circulava sozinho de trem desde os 8 anos de idade. Fazia pequenos serviços de portador, levava o jornal para cidades menores, visitava...
Neto tinha carteirinha da Sorocabana e com ela circulava sozinho de trem desde os 8 anos de idade. Fazia pequenos serviços de portador, levava o jornal para cidades menores, visitava seu avô, ferroviário aposentado, em Mairinque... A muito custo acabou o colégio, pois era um sacríficio para ele estar longe do saculejar do trem. Todos na linha o conheciam. Um dia, na falta de um funcionário, chamaram-no para ajudar na cozinha do vagão restaurante. Teve um bom desempenho, pois ao contrário dos outros iniciantes, não sentia dificuldade para trabalhar com a máquina em movimento, de familiarizado que estava com o vai e vem. De auxiliar passou a garçon e durante décadas serviu refeições a bordo, acompanhadas de guaraná caçula.
Numa ida a Mongaguá soube que a cantina da estação estava para arrendar. Decidiu dar pouso ao corpo já um pouco cansado do balançar das viagens. No início havia bastante movimento mesmo fora do verão e o negócio ia de vento em popa. Com o tempo os horários já não eram regulares, a chegada dos trens foi minguando, o mato começou a cobrir os trilhos, até que por ali ninguém mais chegou. Mesmo assim não fechou a cantina, há quem goste de tomar uma dose no silêncio da plataforma .